Estava sentado à mesa com uns amigos na biblioteca da minha
escola, fazendo nada, e pedi para alguém pegar na estante o primeiro livro que
encontrasse, o que chegou às minhas mãos foi uma obra muito gostosa de se ler e
repleta de reflexão e filosofia (elementos que eu amo). Através do espelho é um
livro de Jostein Gaarder escrito em 1993. Não havia escutado nem lido nada
sobre ele até pegá-lo, e no decorrer da leitura, como uma boa surpresa, me
apaixonei pela história e pela personagem, e não desgrudei até terminar.
"Nós enxergamos tudo num espelho, obscuramente. Às vezes
conseguimos espiar através do espelho e ter uma visão de como são as coisas do
outro lado. Se conseguíssemos polir mais esse espelho, veríamos muito mais
coisas. Porém não enxergaríamos mais a nós mesmos".
Extremamente filosófico, o livro mostra de forma bem simples uma complexa
intensidade de pensamentos que com certeza farão você refletir muito. A
atmosfera criada pelo livro é bem agradável (particularmente falando), apesar
de a maior parte da trama se passar no quarto de Cecília, que está extremamente
doente. O livro inteiro é uma preparação para a morte da criança, - não é
spoiler, pois na própria descrição no verso isso já é dito - porém é mais sobre
a vida.
Um anjo aparece no quarto de Cecília e se torna seu amigo,
ajudando-a a passar seus dias monótonos com mais alegria, e conversando sobre o
mundo, que agora se divide em duas perspectivas: a da menina que pode ver,
tocar, sentir cheiro, ouvir e degustar, e do espírito divino que pode voar ou
tirar férias na órbita de uma estrela, mas que não consegue entender a sensação
de sentir algo ao tocar na neve,
porém possui uma ávida curiosidade quanto a essas coisas simples para um mortal.
É uma leitura bem simples, bem curta, e bem colocada. Eu apenas me
entristeci que em algumas partes há contradições quando se começa a associação
entre a posição do anjo quanto ao Criacionismo ou ao Evolucionismo, mas nada
que diminua a qualidade do livro.
Só alerto a você que não espere do livro fidelidade total à alguma
específica doutrina religiosa, o modo em que Deus é representado não envolve
completamente sua onisciência ou onipresença da maneira em que se escuta em uma
igreja católica ou evangélica, por exemplo.
Eu gostei bastante e recomendo para qualquer pessoa, é uma leitura
leve e branda, inocente e pura, com algumas indiretas quanto aos fatos que
acontecem mas que podem ser perfeitamente entendidos e sentidos.